O judeu de Bethesda
Último dia de aula na escola Walt Whitman. Situada em Bethesda, um bairro intelectualmente sofisticado da região de Washington (DC), é uma das melhores dos Estados Unidos. O pimpolho de volta para casa. Poderia estar sonhando com três meses de vadiagem, longe dos livros. Mas o sonho duraria pouco. Ao fim da tarde, chega o pai judeu, carregando uma sacola de livros recém-comprados. Chama o filho, esparrama os livros na mesa da sala e começa a montar um cronograma de leituras, incluindo a cobrança periódica do que terá sido lido. Ignoro quantos pais judeus passaram também nas livrarias. Mas imagino que não foram poucos.
Ler livros, glorificar livros, eis uma tradição judaica milenar. Vem de longe e não se buscam muitas explicações científicas para ela. Não obstante, Karl Alexander, da Universidade Johns Hopkins, somando aos 39 estudos sobre o assunto, completou uma pesquisa com alunos do ensino fundamental.
Concluiu que, das vantagens acadêmicas acumuladas pelos alunos mais ricos até a 9ª série, dois terços advêm de atividades de leitura mais intensas durante as férias.
Segundo a Secretaria de Educação americana, as perdas dos mais pobres nas férias são devastadoras. Um pai judeu provavelmente diria: ora bolas, é o que sempre pensei. Mas para a maioria das pessoas, os resultados são surpreendentes.
Em matemática, foi possível comprovar que, durante as férias, os alunos esqueceram o equivalente a 2,6 meses de aula. Em outras palavras, somente 2,6 meses depois de recomeçarem as aulas os alunos atingem o nível de competência que tinham no último dia de aula da série anterior.
Ou seja, as férias são um horror para o aprendizado.
Trata-se de resultados valiosos para países que lutam bravamente para melhorar seu claudicante ensino. É simples, se for possível estancar a sangria do “desaprendizado” – que põe a perder 2,6 meses de estudo - , os ganhos serão enormes. Da ordem de 25%. Que outras intervenções seriam tão poderosas.
Tais ideias abrem caminho para muitas linhas de atividade. Pais interessados e comprometidos com a educação dos filhos podem fazer o mesmo que os judeus de Bethesda.(...)
Texto extraído da página 26, revista Veja – 16/06/10.
Cláudio de Moura Castro
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